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Mostrando postagens de novembro, 2022

Seria Cornelius Van Til um solipsista?

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Circula nas redes sociais a acusação de que o doutor Cornelius Van Til seria um solipsista. Solipsismo é a ideia de que existem apenas o eu e a mente pensante, e que o mundo fora da mente é inexistente. Tudo o que o ser humano é capaz de conhecer, para o solipsista, são as impressões da própria mente - nunca os objetos do mundo externo. Tal acusação infundada nasce de incapacidade de compreender os escritos do filósofo de Westminster (se é que os acusadores se deram o trabalho de lê-lo). Van Til não apenas não é solipsista como ele acusa o pensamento não-cristão de cair inevitavelmente no solipsismo quando os pressupostos do não-cristão são levados às consequências lógicas, mesmo no caso daqueles sistemas não-cristãos que procuram apelar para uma possível interpretação objetiva provida pelos sentidos. Em primeiro lugar, devemos dizer que Van Til defende uma interpretação objetiva dos fatos do mundo porque estes fatos são criados por Deus, controlados e interpretados perfeita e objet

BAHNSEN: Fundamentos Bíblicos do Método Apologético Van Tiliano - Um Breve Resumo

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O descrente, que está espiritualmente morto, produz o fruto ruim (Mt 7:17) da rebelião contra Deus no âmago de seu coração corrompido também na sua epistemologia. O descrente quer estar no lugar de Deus como predestinador e intérprete da realidade. O pressuposicionalismo (de Van Til) entende que essa é a essência da "sabedoria mundana" e das vãs filosofias. Em toda a Escritura, o Senhor desdenha da tolice humana; no Novo Testamento, Paulo diversas vezes alerta para que os cristãos não humilhem o Evangelho diante dessas pretensões. Paulo não falou palavras de sabedoria humana, mas do poder de Cristo e do Evangelho - e disse isso falando a romanos e gregos. "Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia; para que também não te faças semelhante a ele. Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que não seja sábio aos seus próprios olhos." [Provérbios 26:4,5] As questões tolas, para as quais Paulo alertou, são aquelas apresentadas na perspectiva do homem autônomo,

VAN TIL: Paulo em Atenas

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Em apenas quinze páginas, Van Til fornece uma interpretação da apologética paulina que é difícil de ser acompanhada pela maior parte das pessoas. A tese defende que Paulo jamais submeteu sua apologética à sabedoria humana que os gregos buscavam (1 Cor 1:22) e que é essencialmente diferente da sabedoria de Deus, "porquanto a sabedoria deste mundo é loucura para Deus" (1 Cor 3:19). As duas pressuposições básicas são (1) a antropologia paulina [e van tiliana] e (2) as diferenças entre as duas cosmovisões. Ambas as pressuposições estão relacionadas. Van Til defende que Paulo só distingue duas categorias gerais na humanidade: mantenedores do Pacto e quebradores do Pacto. Os mantenedores do Pacto têm a epistemologia regenerada, com o princípio cristão de submissão à Palavra no coração de sua teoria do conhecimento; e os quebradores do Pacto, que rejeitam a Palavra e têm no coração as mais diversas manifestações do princípio não-cristão originado no Pecado Original.  Os quebradores

BAHNSEN: Kuyper, Warfield E Van Til

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O van tilianismo deve ser compreendido, dentre outros aspectos, com a noção de que sua obra é também uma tentativa de resolver o problema por trás da rivalidade entre Amsterdã (Abraham Kuyper) e Princeton (Benjamin B. Warfield). Cornelius Van Til estava familiarizado com as controvérsias teológicas de seu tempo. Ele havia estudado as obras de Kuyper antes mesmo de ir ao Seminário na língua original e manteve contato com os teólogos de Princeton, estando consciente das desavenças entre as duas escolas. Warfield criticava Kuyper pelo que parecia ser um desdém deste pela apologética, pela ênfase ao papel do Espírito Santo na conversão. Para Benjamin, o fato de a fé vir pela Regeneração não exclui a racionalidade da fé: nós cremos em Cristo porque é racional crer. A fé seria uma forma de convicção necessariamente embasada em evidências. As evidências têm uma participação na conversão da alma, e uma participação que não é pequena e nem defensiva. A apologética, que seria na verdade uma &qu

CALVINO: Dependência da Escritura para a Revelação Geral.

Senso de deidade.  Calvino entende, em primeiro lugar, que todo ser humano tem em si um senso de deidade, mesmo que, em sua rebeldia, o homem natural busque de todas as formas fugir do verdadeiro Deus. Pela Graça Comum e pela revelação de Deus em si , "é cada um não apenas aguilhoado a buscar Deus" com uma noção "que lhe é ingênita de natureza, mais ainda que no íntimo encravada é, como na própria medula." Desse senso de divindade, contudo, o incrédulo busca fugir, irrompendo impetuosamente, mas que lhes atormenta o íntimo, como "como o sono dos ébrios e dos frenéticos, que, na verdade, mesmo dormindo, não repousam tranquilamente, por isso que são continuamente acossados de sonhos terríveis e apavorantes." Revelação Geral.  E com o senso de deidade ainda também as benfeitorias de Deus, a chuva, o alimento e a vestimenta, sua "paterna clemência", onde o caráter de Deus é revelado a todos incessantemente, como também a sua ira nas dores e tormentas

VAN TIL: Distintas filosofias dos fatos.

A epistemologia van tiliana é uma consequência das doutrinas reformadas de Deus. Em outras palavras, o Deus cristão é tão radicalmente superior aos deuses dos teísmos genéricos que não há outra alternativa senão considerá-lO como a base mesma da possibilidade de todo o conhecimento. O Deus cristão é o único Ser auto-consciente, onisciente e criador (e conhecedor) de todos os fatos. O Criador da fé cristã é absoluto e a fonte de todo ser finito e conhecimento.  Um cristão e um não-cristão podem reconhecer, por exemplo, uma xícara de café. Eles podem igualmente beber o café enquanto debatem sobre cristianismo e ateísmo. Mas esta aparente concordância esconde uma pressuposição básica e profunda que revela a antítese radical entre as duas visões de mundo, cristã e não-cristã. Para o cristão, a xícara de café existe como um "fato criado" por Deus. O material que compõe a xícara foi criado por Deus do nada. As leis físico-químicas mantém a xícara em forma de xícara. A xícara não va

VAN TIL: Da "pressuposição" à antítese.

"Alguns escritores entendem uma pressuposição como sendo uma mera hipótese, suposição ou postulado - uma crença escolhida arbitrariamente, sem base racional. Este não é o entendimento de Van Til, e ele não deve ser assumido em discussões sobre o holandês. Para Van Til, pressuposições cristãs têm a base racional mais sólida, a saber, a revelação de Deus. Inclusive, pressuposições cristãs são mesmo comprováveis em certo sentido, (...) Nem Van Til usa "pressuposição" para se referir a uma hipótese adotada para consideração, como faz, por exemplo, Edward J. Carnell. Para Van Til, pressuposições são categóricas, não hipotéticas. Nem nós deveríamos enfatizar o "pre-" em "pressuposição" para sugerir que pressuposição deve ser em algum momento anterior a todo os nossos outros conhecimentos. O "pré" em "pressuposição" refere-se à "pré-eminência" da pressuposição com respeito às nossas outras crenças. Van Til diz, "A consciênc

VAN TIL: A Reforma Presbiteriana Contra O Liberalismo.

 A Reforma Protestante, com toda a controvérsia que ela suscita no Cristianismo de todo o mundo, não deve ser vista como um evento isolado na história da Igreja. Outros momentos históricos testemunharam a luta e a coragem de alguns poucos teólogos contra a decadência dogmática e doutrinária. Na maior parte das vezes, são as heresias que forçam a Igreja a melhorar-se. No quarto século, como diz Frame, a doutrina da Trindade foi estabelecida de forma semelhante à Reforma Protestante. Depois do século XVI tivemos ainda reformas menores, pelas quais as doutrinas nascidas durante a Reforma foram reafirmadas, especialmente na Holanda do séc. XIX. O reforço do calvinismo naquele pequeno país frutifica até hoje, até mesmo no Brasil.  Nos EUA, Gresham Machen levantou-se contra o liberalismo que espreitava a Igreja Presbiteriana dos EUA (PCUSA), que consolidou a identidade do Seminário Teológico de Westminster e da Igreja Presbiteriana Ortodoxa (OPC). Por essa denominação passaram Van Til, Rushd

FRAME: Contra as levianas acusações de fideísmo.

 "Em geral, a atitude de Van Til a respeito de evidências, como sua atitude a respeito da lógica, é bastante positiva.", diz Frame [p. 139]. Van Til concorda com Warfield quando este diz que "a fé cristã não é uma fé cega, mas uma fé baseada em evidência". E chega a dizer que "o Cristianismo encontra toda demanda legítima da razão". "Van Til acredita que todas as pessoas conhecem Deus a partir do mundo criado e a partir de si mesmos como Imagem de Deus. Com respeito à existência de Deus e à verdade do teísmo cristão, há uma 'comprovação absolutamente certa'. Essa prova é tão clara que podemos estar convictos da existência de Deus. A evidência em si é clara, não meramente 'possível' ou 'provável' [de 'probabilidade']. [...] Inclusive, todos os fatos provam a existência de Deus, desde que nenhum fato pode ser compreendido inteligivelmente sem pressupormos Deus." [p. 140.] "Van Til incentiva o estudo detalhado de

VAN TIL: Sobre Revelação Geral (ou Natural)

Ao contrário do que afirmam muitos de seus opositores, Cornelius Van Til não rejeita a existência da Revelação Geral. Van Til, pelo contrário, era profundamente confessional. Não obstante, a visão van tiliana da Revelação Geral tem nuances que a visão tradicional ignora. Estas nuances, é preciso que se diga, vieram da interpretação que Van Til (e antes dele, Kuyper) deu ao pensamento de Calvino. John Frame enfatiza a importância de entender-se que os diversos aspectos do pensamento de Cornelius Van Til só podem ser compreendidos com profundidade como sistema, i.e., com atenção à relação interna de seus diversos aspectos. A visão de Revelação Geral do holandês está ligada à sua visão da soberania de Deus, porque todo fato é criado e interpretado por Deus desde antes da fundação do mundo, de forma que todos os fatos em determinada medida revelam os decretos de Deus, sendo, por causa dos desígnios divinos, também racionais. Ao contrário do que afirmam os críticos, Van Til tinha uma defesa

Falsa Neutralidade e Razão Autônoma

Por autonomia epistemológica os van tilianos se referem à [suposta] "habilidade de obter conhecimento independente da Revelação e da Existência de Deus". Esse termo não se limita apenas às injustificadas presunções de conhecimento de um ateu, mas a toda epistemologia que começa de um ponto agnóstico. O indivíduo acredita que pode encontrar a verdade através de seus próprios esforços, explorando, analisando e explanando conforme sua lógica, sem precisar de Deus como referência, mesmo que ele não negue a possibilidade da existência de Deus. Ele começa a partir de si mesmo, dependendo tão somente de suas próprias habilidades, acreditando analisar a realidade sem julgamentos apriorísticos e de forma supostamente neutra. Epistemologias autônomas tornaram-se de tal forma onipresentes que são confundidas mesmo com a condição ''sine qua non'' para o pensamento racional em si. Mesmo o cristão, quando vai para as ciências, acaba sendo obrigado a deixar suas pressuposiçõ

Distinção Criador-criatura: o fulcro da controvérsia entre Clark e Van Til; Analogia.

Uma das maiores preocupações de Van Til era manter a distinção entre Criador e criatura. Deus é imutável, infinito, eterno, sabedoria, verdade, santidade e bondade. Ao criar soberanamente as criaturas, fê-las temporais, finitas e mutáveis. A distinção entre os dois permanece na relação entre ambos. Sendo independente de sua Criação, Deus mantém-se o mesmo nesta relação. Manter esta distinção foi uma das preocupações em sua controvérsia com Clark, mas na relação entre conhecimento de Deus e conhecimento humano.  O conhecimento que Deus tem é "arquetípico". Seu ser é conhecimento. Deus não conhece as coisas passivamente, mas ativamente e eternamente, porquanto as criou. Deus não pensa proposicionalmente, porque Ele não precisa. Deus conhece-se a si mesmo absolutamente e conhece absolutamente todas as coisas. O conhecimento humano, por outro lado, é finito e chamado, desde antes de Turretini, Hodge, Bavinck, e outros, até Van Til, de "ectípico". O ser humano conhece tu