VAN TIL: Sobre Revelação Geral (ou Natural)

Ao contrário do que afirmam muitos de seus opositores, Cornelius Van Til não rejeita a existência da Revelação Geral. Van Til, pelo contrário, era profundamente confessional. Não obstante, a visão van tiliana da Revelação Geral tem nuances que a visão tradicional ignora. Estas nuances, é preciso que se diga, vieram da interpretação que Van Til (e antes dele, Kuyper) deu ao pensamento de Calvino.

John Frame enfatiza a importância de entender-se que os diversos aspectos do pensamento de Cornelius Van Til só podem ser compreendidos com profundidade como sistema, i.e., com atenção à relação interna de seus diversos aspectos.

A visão de Revelação Geral do holandês está ligada à sua visão da soberania de Deus, porque todo fato é criado e interpretado por Deus desde antes da fundação do mundo, de forma que todos os fatos em determinada medida revelam os decretos de Deus, sendo, por causa dos desígnios divinos, também racionais.

Ao contrário do que afirmam os críticos, Van Til tinha uma defesa sólida e importante da Revelação Geral. Para ele, a Revelação Geral era necessária, autoritativa e eficiente em seu propósito (revelar a glória, o caráter e a vontade de Deus). O dilúvio, por exemplo, revela a Ira de Deus. O arco-íris como sinal dado a Noé revela sua Graça. 

A apologética van tiliana pressupõe essa revelação geral: o não-cristão tem informações suficientes sobre Deus, independentemente da revelação especial (Rm 1,2). O apologeta deve demonstrar a inconsistência entre a realidade e a inabilidade do princípio espiritual e filosófico não-cristão em dar significado à experiência humana - a "esquizofrenia intelectual" à qual Rushdoony se referia, a "tensão existencial" de Schaeffer. 

Para o holandês, a Revelação Geral e a Revelação Especial estão integradas uma na outra em vários sentidos. Para que os milagres sejam diferenciados, é necessário que a natureza apresente constância. Ou seja, é preciso o natural para o sobrenatural ser conhecido.

A Revelação Geral existe em relação ao ser humano tanto antes quanto depois da Queda. Adão e Eva foram expulsos do paraíso para um mundo caído, onde as feras selvagens devoram os homens, as tormentas os engolem e o calor e o frio lhes atormenta. A natureza hostil, amaldiçoada pelo pecado, é a base que faz urgir no coração humano o desejo de redenção.

Por tudo isso Frame afirma que os evangélicos erram na importância desequilibrada que dão à Revelação Especial e à Revelação Geral, porque ambas vêm de Deus e estão integradas; cada uma exercendo um papel no plano de salvação. A Revelação Geral serve como base para que a Revelação Especial apresente a Graça de Deus em toda a sua plenitude.

Ao mesmo tempo, a Revelação Especial faz-se necessária depois da Queda para guiar a interpretação que o ser humano faz da Revelação Geral (porque o mesmo Paulo afirma que o homem caído quer suprimi-la), corrigindo os nossos erros, e para apresentar o evangelho de Jesus Cristo (informação indisponível na Revelação Geral).


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