UMA INTERPRETAÇÃO VAN TILIANA DA FILOSOFIA GREGA



Fundamental para a filosofia do Dr. Cornelius Van Til é a sua interpretação dos efeitos noéticos do pecado, conforme a doutrina distintamente reformada do Pecado Original. Adão era o representante federal da humanidade e com ele todos caíram

Os filósofos gregos, com o restante da humanidade, eram descendentes de Adão. Como pecadores, eles também manifestaram a supressão da verdade de Deus que Paulo cita em Romanos 1. Como todos os pecadores, eles (1) suprimem a distinção Criador-criatura e (2) assumem que a realidade é no fundo uma, isto é, negando os atributos incomunicáveis de Deus. Van Til cita Tales como exemplo desta suposição monista. 

O professor de Westminster assinala que não há espaço para o Deus bíblico na cosmovisão dos gregos. O deus dos filósofos não é auto-contido nem transcendente, além do universo. "Decerto", diz Van Til, "os filósofos gregos falaram de [um] deus como estando acima e além do universo. Mas o tipo de deus então pensado como estando além do universo não é o criador e controlador do mundo. Ele é (...) indeterminado." 

É digno de nota que o holando-americano não minimiza a diferença entre o "realismo clássico" dos gregos e o "idealismo moderno". Ele diz que "[e]xiste um sentido em que a filosofia dos antigos era melhor que a dos modernos. A despeito do fato de que eles, assim como os pensadores modernos, assumiram a ultimação e normação de si mesmos e do mundo todo, eles reconheciam, até certo ponto, que a realidade e a lei não dependiam deles mesmos." Ainda assim, os gregos não são menos quebradores do Pacto do que os pensadores modernos. Seu princípio de interpretação assume que não existe um Deus que é criador e juiz do homem.

O doutor Van Til assinala ainda que apenas a teologia reformada — com sua interpretação do (a) Pacto, da (b) representação federal e da (c) Queda —, pode ter tal percepção, "embora ela seja obviamente ensinada em Romanos 5:12 e em qualquer outro lugar das Escrituras. Consequentemente, a história da filosofia parecerá diferente do ponto do pensamento reformado quando comparado aos pontos de vista do romanismo e do arminianismo. O romanismo e o arminianismo defendem em alguma medida a autonomia da vontade humana. E com isso eles rejeitam a posição representativa de Adão, o primeiro homem. Eles não reconhecem que como resultado da queda de todos os homens em Adão, eles são nascidos e concebidos em pecado, e querem portanto suprimir a verdade de sua própria natureza criada, mesmo que eles sejam, a despeito de si mesmos, compelidos, em um sentido, a admiti-lo. Como resultado desse defeito, esse elemento não-bíblico em suas teologias, o romanista e o arminiano ou evangélico terão uma visão diferente do "realismo clássico" daquela da pessoa reformada. O romanista e o evangélico não sentirão o elemento de supressão da verdade presente na filosofia grega. Eles tenderão a tomar os livros usualmente escritos por não-cristãos como legítimos quando eles falam dos gregos como sendo crianças inocentes maravilhadas, que pela primeira vez encontraram unidade na experiência humana. Eles não observarão a suposição monista sublinhada na filosofia grega. Eles não notarão que na medida em que o deus dos gregos é correlativo ao mundo, o mundo e sua história não são controlados pelo plano de Deus. Talvez, mais importante do que tudo o mais, eles não observarão que o 'teísmo grego' não pode servir de fundação para o Cristianismo." [The Defense of The Faith, 220.]

Em suma, o deus dos gregos não pode servir como degrau para o Deus do Cristianismo. Em "Paulo em Atenas", o professor de Westminster chama nossa atenção para o fato de que Paulo, pregando aos atenienses, não apelou para o Ser Supremo de Platão ou para o Motor Imóvel de Aristóteles; ele começa sua pregação falando do Deus "que fez o mundo e tudo que nele há" (Atos 17:24).

Nossos pressupostos teológicos, epistemológicos, ontológicos e antropológicos - ou seja, nossa cosmovisão - impõem uma visão distintamente reformada da filosofia grega. O propósito de Van Til é tornar o cristão autoconsciente de sua cosmovisão para que não mais sirva a dois senhores.


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